Por que é importante divulgar ciência?

Eu já fui interpelada por mais de uma vez nesse primeiro ano de doutorado sobre “por que divulgar ciência é importante”. Houve momentos em que entendi a pergunta como uma crítica positiva, que contribuiu para que eu entendesse melhor meu próprio projeto de pesquisa. Mas também houve casos em que as pessoas estavam provocando porque não viam muito sentido em comunicar ciência, muito menos em estudar esse processo. Para que perder tempo com isso, afinal?

Ainda me surpreendo com quem não vê importância na divulgação científica.

Percebo que a discussão em torno do papel das redes sociais digitais para a divulgação da ciência é muito presente na vida de pesquisadores no exterior enquanto, aqui no Brasil, limita-se a engajados na área que nem sempre ‘fazem’ ciência, ou seja, são comunicadores mas não estão nas Universidades como professores, não ocupam cargos nos órgãos de pesquisa. Eu não digo isso pejorativamente, é só uma constatação a partir da observação – eu sou uma dessas pessoas. Mesmo com todos os incentivos à popularização da ciência na última década, são raros os pesquisadores brasileiros que estão na ativa nas Universidades e ainda desenvolvem atividade de divulgação de suas próprias pesquisas no Twitter, Facebook, blogs e afins.

Curiosamente, ontem tive acesso a um texto publicado no New York Times que orientava pesquisadores a saírem das redes sociais para terem sucesso em suas carreiras. Cal Newport diz lá com todas as letras: “You should quit social media because it can hurt your career” e sai argumentando que as redes sociais fragmentam nossa atenção e que o tempo do pesquisador deveria ser melhor aproveitado na pesquisa:

If you’re serious about making an impact in the world, power down your smartphone, close your browser tabs, roll up your sleeves and get to work.

Eu vim escrever aqui porque acabei de ler um texto do The Lab Bench que pondera as questões do artigo de Cal Newport. Concordo com as ponderações porque acho que uma coisa não tem a ver com a outra. Você pode ser um pesquisador excelente, produtivo e de grande impacto para a ciência estando ou não nas redes sociais mas se você decide dedicar um pouquinho do seu tempo a espalhar seu conhecimento e suas pesquisas para o mundo, acho que você contribui e causa impacto de um jeito diferente e necessário. Não são as redes sociais que fazem você perder tempo; se isso acontece, é você que é desorganizado, amigo. Escolha suas prioridades.

Nem todos têm interesse na divulgação científica, nem todos têm talento (porque não é fácil e demanda muito estudo, muita dedicação), mas quem o faz não está destruindo a carreira, não está se queimando. É uma escolha que tem ônus e bônus como tudo na vida, mas que não é melhor ou pior do que escolher apenas se dedicar à vida acadêmica, sem se engajar na divulgação. Confesso que não acredito no fim das Torres de Marfim,mas prefiro ser a pessoa que vai estar lá com uma marretinha criando rachaduras cada vez maiores. Quem sabe, assim, o povo lá de dentro começa a enxergar que tem muito mundo fora da Academia e que é preciso sair. E comunicar.

Imagem de destaque: Reprodução FromTheLabBench / Sean MacEntee, Flickr.